Desde que comecei a fazer iniciação científica em Cosmologia, por volta de 2004, ouço falar da importância dos resultados do Planck, um satélite desenvolvido pela Agência Espacial Européia ( ESA) cujo principal objetivo é fazer o mapeamento da chamada radiação cósmica de fundo (RCF), uma relíquia dos primórdios do universo que nos ajuda a entender como o cosmos surgiu, evoluiu e até mesmo como será seu futuro. Hoje, 3 dias após minha defesa de doutorado, os tão esperados resultados foram disponibilizados.
O Planck spacecraft é o sucessor natural do COBE e do WMAP, este último em atividade até hoje, tendo seus resultados mais recentes sido lançados pouco antes do último natal. É impressionante notarmos que há menos de 50 anos atrás, a imagem que tínhamos da RCF era um grande borrão verde:
Em 1965, Penzias e Wilson descobriram de maneira acidental a existência da RCF, e a figura acima é uma simulação do que os mesmos teriam observado se tivessem realizado um mapeamento completo do céu, o que não foi o caso na época.
Repare a evolução obtida com o satélite COBE:
As diferanças nas cores indicam flutuações de temperatura em relação ao valor médio, aproximadamente 2,7 Kelvin. Com o WMAP, a resolução ficou ainda maior, e conseguimos enxergar ainda mais detalhes:
Os resultados liberados hoje são os mais precisos de todos os tempos. Uma comparação qualitativa entre a resolução do WMAP e Planck pode ser vista abaixo:
E o que pode ser aprendido desses resultados mais precisos? Das medições da radiação cósmica de fundo pode-se inferir diversos parâmetros cosmológicos importantes que nos permite testar nossos melhores modelos cosmológicos, como o chamado modelo do “big bang” (mais formalmente conhecido como modelo cosmológico padrão) e o seu complemento (como um update de correções hehe), o modelo da inflação do universo.
Do ponto de vista mais técnico, o Planck confirmou que estávamos no caminho certo. Houveram mudanças significativas em relação ao 9-year WMAP, mas nenhum resultado que mude completamente nossa direção. Talvez o resultado mais contundente tenha sido a determinação de um compatível com zero, ou seja, modelos que prevêem grande não-gaussianidade parecem desfavorecidos pelas observações. Como no 9 year Wmap, novamente não foi encontrado evidências significativas para a existência de um índice espectral dependente de escala (). A razão tensorial para escalar continua praticamente a mesma, com seu limite superior dado por . A exclusão de potenciais polinomiais no contexto da inflação fria também não mudou, como pode ser visto na figura abaixo. Potenciais do tipo com estão completamente descartados, enquanto que o caso só é compatível com as observações no caso .
Nesse pequeno comentário me concentrei nos aspectos voltados para o universo primordial, relacionados principalmente ao modelo inflacionário. Esses e MUITOS outros resultados podem ser encontrados no conjunto de papers publicados hoje no site da ESA: http://www.sciops.esa.int/index.php?project=PLANCK&page=Planck_Published_Papers.
Ps.: Esta última figura foi extraída do artigo contendo os resultados cosmológicos, no link acima. Todas as outras foram copiadas dos sites das respectivas missões espaciais.
Até a próxima!